SEGUNDA, 04 DE AGOSTO DE 2008.
Cena na Praça da Paz Celestial virou um ícone do século 20.
Impossível vir a Pequim e não falar de uma cena inesquecível, um ícone do século 20. Afinal, quem era o rebelde que desafiou uma coluna de tanques do exército chinês quase vinte anos atrás na Praça da Paz Celestial? A Praça da Paz Celestial é o coração de Pequim. Tiananmen é a maior praça do mundo. Do portão, que leva para a Cidade Proibida, Mao Tse-tung e câmeras vigiam quem passa. O gigantismo do lugar, a ausência de árvores e o clima devastador parecem cumprir um objetivo: impossível um indivíduo não se sentir pequeno na praça.
Em junho de 1989, quase 20 anos atrás, o coletivo ocupou o lugar. Milhares de estudantes pediam reformas políticas. Muitos acabaram assassinados pelo Exército. Não existe um número oficial de mortos. Fala-se em mil a sete mil vítimas. No dia seguinte ao massacre, uma coluna de tanques descia a Avenida Chang'an, que corta Pequim. A um quarteirão de Tianamen, um homem já esperava, sozinho com uma sacola em cada mão. O primeiro tanque pára. Ele faz um gesto com a mão direita, como quem diz “Dá meia volta”. O tanque tenta desviar. Não consegue. O piloto desiste e desliga o motor. O homem sobe no tanque. Quer conversar. Naquele momento, a imagem já era histórica e inesquecível. Do mesmo jeito que entrou para a história, o homem anônimo desapareceu e nunca mais foi visto. Até hoje não se sabe de onde ele veio nem pra onde foi. A falta de informações e o sumiço misterioso levantam uma onda de teorias sobre o paradeiro do jovem que desafiou os tanques do Exército chinês.
Dois professores de Pequim viveram aquele período. Um deles estava na praça durante os protestos. Os dois acreditam que o rebelde está vivo. “Dizem que, depois do incidente, as universidades interrogaram os alunos para identificar os envolvidos. Se o rebelde tivesse sido preso ou morto, o meio estudantil saberia”, diz um dos professores. Outra testemunha do massacre foi a jornalista Jan Wong, canadense de origem chinesa. Ela estava numa das varandas de um hotel, de onde foram feitas as imagens históricas. Wong também acredita que o homem não morreu nem foi preso. Da janela, a jornalista viu quando duas pessoas pegaram o rebelde pelos braços e desapareceram com ele no meio da multidão. Um ano depois dos protestos, ela apurou que o governo chinês ainda procurava o homem. “Provar que ele estava vivo seria excelente como estratégia de propaganda”, diz a jornalista Jan Wong. Jan Wong só acha curioso que ninguém se lembre do piloto do tanque. Ele tinha permissão, mas não atropelou o rebelde. “Esse eu tenho certeza de que o governo chinês sabe quem é”, diz ela. Semana passada, um jornal de Pequim quebrou um tabu e publicou, pela primeira vez, uma foto dos acontecimentos, mas a edição foi recolhida das bancas por ordem do governo. O rebelde e o piloto do tanque são dois chineses em lados opostos. Dois anônimos que se tornaram símbolos de uma época. Uma ferida aberta até hoje, como tantas outras na China.
(fonte: globo.com/fantastico)
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